Por Gabriel Marvin
Beda iluminou o Ocidente com sua sabedoria, enquanto Damasco iluminou o Oriente.
São Roberto Bellarmino — De scriptoribus ecclesiasticis p.263
São Beda, o Venerável, apesar de ser um grande teólogo exegético, doutor da Igreja — o único inglês com esse título — sofre dum problema comum a muitos autores: suas obras permanecem sem tradução para o português. Em lamento e como um verdadeiro pedido de atenção à obra deste santo, vi a necessidade de traduzir ao menos um capítulo de seu extenso corpus, sendo escolhido a Exposição Alegórica do Profeta Samuel, no intuito de possibilitar ao menos uma curta contemplação da profundidade e extensão de suas contribuições; estas que reverberam nos maiores escritores da fé católica[1].
Sua dedicação ao estudo das Sagradas Escrituras — que o fez ser considerado por muitos o maior exegeta da Igreja Ocidental —, a educação monástica e a preservação do conhecimento cristão durante a Idade Média foram virtudes admiráveis e prolíficas; como veremos adiante pela amplidão de seus frutos. Sua obra mais conhecida, Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum (História Eclesiástica do Povo Inglês), é considerada uma das principais fontes da história da Igreja na Inglaterra e teve grande influência na formação da identidade cristã anglo-saxônica. São Beda foi também um dos primeiros a calcular com precisão a data da Páscoa e contribuiu significativamente para o desenvolvimento do calendário litúrgico, além de ser o autor do primeiro martirológio histórico. Antes mesmo de ser declarado Doutor da Igreja por sua erudição, santidade e contribuição duradoura para a teologia e a história da Igreja, já era aclamado publicamente como Venerável Doutor[2].
Embora permaneça não traduzido e não publicado, abundam breves biografias por toda a internet, muitas delas bem elaboradas e com mais referências do que eu mesmo seria capaz de oferecer. Diante disso me calarei e deixarei que o diálogo aconteça entre doutores, optando que São Roberto Bellarmino fale por mim.
De scriptoribus ecclesiasticis (Ou, Dos escritores eclesiásticos)
Por São Roberto Bellarmino[3]
O Venerável Beda, presbítero inglês, floresceu nesse mesmo tempo; com efeito, no ano do Senhor de 731 ainda estava entre os vivos, como ele mesmo testemunha no final do quinto livro da História Eclesiástica do Povo Inglês. Escreveu muitíssimas obras, que se encontram reunidas em oito tomos.
O primeiro tomo contém: As obras relativas à Gramática, Aritmética, Geometria, Astronomia, Música e artes similares. O segundo tomo contém: As obras Da natureza das coisas, Do cálculo do tempo, Dos lugares sagrados do mundo, Dos tempos para a compreensão do cômputo das épocas na Sagrada Escritura; sentenças extraídas de Cícero e Aristóteles, Sobre provérbios, Da substância dos elementos, quatro livros de Filosofia, o Livro da Páscoa ou sobre o Equinócio, o Livro da Arca de Noé, o Livro sobre as línguas dos povos, e finalmente os Oráculos Sibilinos.
Observação: Intercalou-se entre os livros do Venerável Beda uma epístola Sobre a adivinhação da vida e da morte, absolutamente indigna deste autor. Ouvi também que circula sob o nome de Apuleio, o Platônico, Sobre a morte e todos os assuntos. Portanto, julgo que deve ser completamente removida.
O terceiro tomo contém: Os cinco livros da História do seu povo, com uma epítome; as vidas dos santos Cuteberto, Félix, Vedasto, Columbano, Artala, Patrício, Eustáquio, Bertulfo, Arnulfo, Burgundofara; também o poema Sobre o martírio de Justino, o Martirológio, Sobre a localização de Jerusalém, a Interpretação dos nomes hebraicos e gregos que ocorrem nas Sagradas Escrituras, excertos e coletâneas. O quarto tomo contém: Exposição do Pentateuco e dos Livros dos Reis; também quatro livros de explicações alegóricas de Samuel; ainda, exposições de Esdras, Tobias, Jó, Provérbios e Cânticos; e por fim, dois livros Do Tabernáculo e seus vasos e vestimentas. O quinto tomo contém: Comentários de todo o Novo Testamento, exceto as Epístolas de São Paulo. O sexto tomo contém: Retratações e questões dos Atos dos Apóstolos; comentários de todas as Epístolas de São Paulo, extraídos das sentenças e palavras de Santo Agostinho. O sétimo tomo contém: Homilias De Tempore e De Sanctis (sobre o Tempo Litúrgico e sobre os Santos), em grande número; também o Livro sobre a mulher forte, o Livro sobre os Ofícios, Reflexões (Scintillas) de lugares comuns, fragmentos sobre os livros sapienciais e versículos dos Salmos. O oitavo tomo contém: O Livro sobre o Templo de Salomão, o Livro sobre a Criação ou obra dos seis dias, questões sobre o Octateuco, dos quatro livros dos Reis, diversas questões, comentários dos Salmos, comentários do livro de Boécio De Trinitate, Sobre as palavras de Cristo, Meditações da Paixão, Sobre os remédios dos pecados.
Primeira observação: Existe um índice das obras do Venerável Beda, escrito pelo próprio, assim como a sua vida até a idade de 59 anos, também descrita por ele, e após a História do seu povo, escreveu mais algumas obras, pois viveu vida longuíssima, e não é de se estranhar que atualmente circulem sob seu nome alguns escritos que ele não menciona em seu índice.
Segunda observação: Não faltam aqueles que desejam retirar do catálogo das obras do Venerável Beda os comentários das Epístolas de São Paulo, compostos com palavras de Santo Agostinho. Contudo, ninguém o fez com mais autoridade do que o Cardeal Barônio. Com efeito, no tomo VII de seus Anais, ao ano 562 de Cristo, relata, segundo Cassiodoro, que um certo Pedro, abade de Trípoli, sublinhou as epístolas de São Paulo com exemplos retirados das obras de Santo Agostinho, adaptando-as tão bem a cada lugar que pareceria mais fruto da diligência de Agostinho do que de outro. É admirável como elucidou um a partir do outro, sem adição de palavras suas, de modo que o desejo do coração de Agostinho parece realizado. Estas são as palavras de Cassiodoro. Assim, o Cardeal Barônio considera que esses comentários às Epístolas de São Paulo não são do presbítero Beda, mas do abade Pedro de Trípoli. Visto que, na introdução às Epístolas, encontram-se estas palavras: Sobre o Apóstolo, cuidei de transcrever em ordem tudo quanto encontrei exposto nas obras de Santo Agostinho, responde o Cardeal que essa introdução não é de Beda, mas de alguém que, para que os comentários fossem atribuídos a Beda, inseriu tais palavras.
Eu, porém, embora me custe muito discordar de homem tão douto e excelente, e tão íntimo a mim em vida, exporei as razões que me levam a crer que esses comentários são realmente de Beda, deixando o juízo ao leitor.
Primeiramente, essa introdução, mesmo que não tenha sido anexada por Beda a esses comentários, é inteiramente retirada de suas palavras ao fim da História, ou da Epítome à qual ele mesmo havia anexado em sua vida e no índice de suas obras, como o próprio Cardeal Barônio afirma no tomo VIII dos Anais, ao ano do Senhor 731, onde ele transcreve literalmente o índice que falta em muitos códices, e nesse índice de Beda, representado pelo Cardeal, encontram-se estas palavras: “Do Apóstolo, cuidei de transcrever em ordem tudo quanto encontrei exposto nas obras de Santo Agostinho”. E em tal passagem, o Cardeal Barônio não diz que essas palavras não são de Beda, nem é crível que alguém fosse tão audaz e temerário a ponto de acrescentar algo ao índice de Beda.
Ora, se essas palavras são de Beda — como de fato são —, é absolutamente necessário admitir ou que Beda mentiu (o que ninguém diria), ou que tais comentários são realmente dele. Além disso, se esses comentários não são de Beda, então seria preciso admitir que Beda, que se empenhou com tanto afinco na explicação dos livros de ambos os Testamentos, teria negligenciado apenas o Apóstolo, cujas epístolas são tidas como a parte mais nobre das Escrituras. Ademais, o que impede que dois autores — Pedro, o abade, e Beda, o presbítero —, em diferentes tempos e lugares, tenham se dedicado ao mesmo estudo, explicando Paulo a partir dos escritos de Agostinho? Se possuíssemos o comentário do abade Pedro, e o comparássemos ao de Beda, e ambos se mostrassem idênticos, então dever-se-ia concluir que a obra não é de Beda; mas como aquele não existe, é perfeitamente plausível que sejam distintos, ou seja, compostos a partir de diferentes sentenças e palavras de Agostinho.
Terceira observação: Dentre as Vidas dos Santos que se encontram no terceiro tomo de Beda, algumas certamente não foram escritas por ele. Com efeito, a Vida de São Patrício, composta em dois livros, não está no Índice, e é notório que foi escrita por Probo, como se lê ao final do segundo livro. Do mesmo modo, a Vida de São Columbano não foi escrita por Beda, mas por Jonas; a Vida de São Arnulfo foi escrita por Paulo, o Diácono, e não por Beda. Assim também, entre as Coletâneas e os Florilégios, que se acham no terceiro tomo, nada há que seja digno do engenho de Beda. A Coletânea dos Luminares da Igreja encontra-se também no tomo IV de São Jerônimo, e não é nem de Jerônimo nem de Beda. A Coletânea dos quatro tipos de madeira na Cruz do Senhor nada tem de sólido. A pequena oração que invoca os três Tiagos, e outra em que se invocam os anjos Uriel e Rumiel, estão muito distantes da gravidade e ciência de Beda. Mas assim como entre as obras de Beda há algumas que não são dele, assim também faltam os Comentários sobre Isaías, Jeremias, Daniel e os Profetas Menores, os quais são enumerados no Índice de suas obras, e parecem ter-se perdido.
Dissertação Histórica
Beda, nascido na Britânia, oriundo do povo dos Anglo-Saxões, no território dos Girvvensi, não longe da foz do rio Tyne, nasceu no ano de 673. Desde menino abraçou a vida monástica, na qual perseverou por muitos anos sob os abades Bento (Benedictus) e Ceolfrido[4], no Mosteiro dos Santos Pedro e Paulo, junto ao rio Tyne, na diocese de Durham (Dunelmensis), vulgarmente chamado de “Presbítero Anglo” e “Venerável”. Faleceu no ano de 735, no dia 26 de maio, ou seja, no sétimo dia antes das Calendas de junho, quando se celebrava a memória da Ascensão do Senhor.
Dele, fala o Apêndice Anônimo à História Eclesiástica dos Ingleses, escrita pelo próprio até o ano 731, aos 59 anos de idade, e dedicada ao rei Ceolufo da Nortúmbria; também o faz seu epitáfio; Alcuíno, o chama de “o mais nobre mestre do seu tempo”; Honório de Autun, no início do livro IV De Luminaribus Ecclesiae, onde, erroneamente, se afirma que morreu e foi sepultado em Roma; Sigeberto de Gembloux, no capítulo 68 de De Scriptoribus Ecclesiasticis, que atribui sua morte ao ano de 734, o que é menos preciso — como se comprova pela coincidência com o dia da Ascensão, que caiu em 26 de maio. Guilherme de Malmesbury, no livro 1, capítulo 3, afirma que teria sido chamado a Roma pelo Papa Sérgio; embora pareça com toda certeza que nunca tenha saído da Inglaterra. Também o mencionam Mateus de Westminster e, entre os mais recentes, Vossius, no livro 2 De Historicis Latinis, capítulo 28, e o Cardeal Barônio, que o debate bastante nos Anais — e, ao tentar fixar sua época e ao tratar de outras questões, comete alguns enganos, como atribuir a Pedro de Trípoli, abade, os Comentários às Epístolas de São Paulo, que corretamente Belarmino atribui a Beda.
Nada tenho a acrescentar àquilo que aquele insigne ornamento da púrpura romana e da nossa Companhia[5] tratou ao discutir as obras espúrias e duvidosas de Beda. Quanto ao Martirológio, o próprio Beda atesta, ao fim da História Eclesiástica dos Ingleses, com estas palavras:
“Escrevi um Martirológio dos nascimentos (isto é, dos dias de martírio) dos santos mártires, no qual me esforcei por anotar cuidadosamente todos os que pude encontrar, não só em que dia, mas também por qual tipo de combate e sob qual juiz venceram o mundo.”
Contudo, aquele que atualmente traz seu nome não é autêntico, tendo sido enriquecido com múltiplas adições, como observam os eruditos a partir do Prefácio de Usuardo[6].
(a) Outras coisas surgirão mais adiante, que serão então apresentadas quando expusermos em pormenores os tratados contidos em cada um dos volumes de sua obra e os examinarmos conforme sua importância.
Enquanto isso se observe que, segundo Sixto Senense, Beda foi ordenado presbítero aos 30 anos de idade pelo bispo João, e que, por incentivo do bispo Acca de Iorque (Eboracensis) e de muitos irmãos, empreendeu o projeto de escrever sobre toda a Escritura, compondo diversos volumes de explicações, organizados em quatro categorias: Rapsódias, Questões, Homilias e Comentários.
Nas Rapsódias — isto é, nos chamados Stromata ou Coletâneas —, ele teria reunido exposições mais místicas que históricas, coligidas a partir das sentenças dos mais ilustres Doutores da Igreja. Nos Comentários, Questões e Homilias — nos quais utiliza mais frequentemente tanto seu próprio estilo quanto suas próprias idéias —, é reconhecido por possuir um estilo nem totalmente desprovido de elegância, nem afetadamente elegante, mas moderado e equilibrado.
Exposição Alegórica sobre o Livro de Samuel
Por São Beda, o Venerável [7]
O apóstolo, recomendando-nos o estudo e a freqüência na leitura e meditação das Sagradas Escrituras[8], diz: “Ora tudo o que foi escrito para nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e consolação (que tiramos) das Escrituras, tenhamos esperança”[9]. E em outro lugar: “Ora todas estas coisas lhes aconteciam, em figura, e foram escritas para advertência de (todos) nós, para quem o fim dos séculos chegou”[10]. Mas também o bem-aventurado apóstolo Pedro, recordando os tempos da encarnação, paixão e glória posterior do Senhor, diz, entre outras coisas: “E todos os profetas que falaram, desde Samuel em diante, anunciaram estes dias”.[11]
Se, portanto, tudo foi escrito para nossa correção, instrução ou consolação, não apenas Jeremias, Isaías e outros semelhantes, que anunciaram o futuro com palavras, mas também Samuel, Jonas e Esdras, e outros como eles, que registraram os feitos ou palavras do passado, sejam seus próprios ou de outros, todos insinuam estes dias, isto é, os dias que resplandecem com a luz da nova graça. Devemos, pois, empenhar-nos com o maior zelo, e cada um, segundo sua capacidade, com a ajuda da graça de Cristo, esforçar-se para que aquilo que foi escrito para nós não nos passe como se fosse algo alheio, por causa de nossa preguiça ou negligência.
Antes, devemos aplicar-nos com cuidado e vigilância para compreender em que sentido encontramos nestes textos a correção, de que modo a instrução, com que entendimento a consolação, e como tudo isso fala e anuncia estes dias. Assim, imitando, conforme a capacidade de nosso pequeno engenho, aquele escriba instruído no reino dos céus, que tira de seu tesouro coisas novas e antigas.[12]
Pois se nos preocupamos apenas em tirar coisas antigas do tesouro das Escrituras, isto é, seguir unicamente as figuras em sua literalidade à maneira judaica, o que adquirimos, ao ler ou ouvir, de doutrina espiritual em meio aos pecados cotidianos que exigem correção, às angústias crescentes deste mundo que demandam consolação, e aos inúmeros erros desta vida? Pois, ao abrir um livro, por exemplo, o do bem-aventurado Samuel, encontramos que Elcana, sendo um só homem, teve duas esposas; e nós, que principalmente pela disciplina da vida eclesiástica devemos manter-nos afastados do contato com mulheres e permanecer celibatários, que proveito teríamos se não soubéssemos extrair dessas narrativas um sentido alegórico que nos vivifique, castigando, instruindo e consolando-nos para nos restaurar?
Por isso, ó caríssimo e tão desejado entre todos os bispos que habitam na terra, Acca, instigado por tua freqüente exortação e confiando-me às tuas orações, ao percorrer os escritos daquele profeta que então era chamado “Vidente”, cuidarei de confiar às letras, se me for concedido pela graça daquele que lhe deu ver muitas realidades espirituais, algo que eu possa contemplar de espiritual e místico.
E após qualquer que seja a exposição das palavras do bem-aventurado Lucas, pelas quais ele descreve os atos evangélicos, tanto do próprio Senhor quanto de seus apóstolos, esforçar-me-ei também por demonstrar que este santíssimo, consagrado ao Senhor desde o ventre materno como Nazireu, cumpriu não menos o ofício de evangelista em seus escritos do que o de historiador; pois ele mesmo designou, com linguagem figurada mas de máxima plenitude, todos os mistérios de Deus e dos homens — isto é, os sacramentos do homem Jesus Cristo — com fidelidade histórica.
Por fim, para que eu me cale quanto os demais, se tu, considerando corretamente a glória do reino prometido de apenas um Davi – o lugar de seu nascimento, a função de pastor, o rubor e a beleza de sua aparência, o modo de sua unção, a imensa força de suas virtudes, o peso de suas tribulações e a glória do reino prometido outrora – perceberás quão grandes mistérios da fé e da verdade evangélica estão reunidos em cada um dessas características.
Mas estas coisas serão explicadas mais claramente em seu devido lugar; por ora, conforme a ordem da tarefa que me foi incumbida, confiando unicamente no auxílio do Alto e seguindo as pegadas dos Padres, darei início à obra. E se, de fato, meu esforço vier a ser útil e proveitoso para muitos, como desejo, espero do Senhor ser recompensado com grande recompensa junto com eles; mas, se isso não acontecer, ainda assim meu empenho — que não me permite, por tanto tempo dedicado a este trabalho, permanecer ocioso ou entregar meu espírito a coisas vãs — não poderá ser considerado infrutífero. Portanto, vejamos, pois, o profeta Samuel, que falou e anunciou aqueles dias, de que maneira ele deu início à sua locução e anúncio; e, discorrendo em ordem, com a ajuda do bem-aventurado Pedro, príncipe dos apóstolos, que explicou como todas as coisas devem ser aplicadas às palavras, busquemos como cada uma delas deve ser ajustada a essas mesmas palavras.
Livro Primeiro. No Capítulo I.
CAPUT. I. Havia em Ramataim-Sofim um homem das montanhas de Efraim, […] Elcana”, a primeira leitura do bem-aventurado Samuel designa figuradamente um único e mesmo Senhor Cristo, ao mesmo tempo Redentor e Guia dos crentes, tanto da sinagoga quanto da Igreja; uma, vangloriando-se da justiça da lei e da abundância de sua descendência crédula; outra, lamentando devotamente as injúrias de sua longa desolação, humilde diante da misericórdia de seu Redentor, e assim respirando o consolo do mais sublime Redentor que o ama de volta. Ramataim, como encontramos nos livros de lugares, é uma cidade na região de Thamna, próxima a Dióspolis, de onde era José, que no Evangelho é chamado de Arimatéia. Sofim, por sua vez, é o monte Efraim no lugar de Ramataim, que a antiga edição chama de Armathaim.[13]
Interpreta-se, pois, Ramataim como “as alturas deles”; Sofim, “mirante”; Efraim, “frutífero” ou “crescente”; Elcana, “posse de Deus”. Havia, portanto, um homem das alturas deles, um mirante, isto é, um mirante dos homens, do monte frutífero e crescente, e seu nome era “posse de Deus”. Um único Senhor, uma única fé, um único batismo, um único Deus[14], que sempre tem para si um amado e consagra uma morada nos corações espirituais dos fiéis. Estes, transcendendo a convivência terrena, desejam contemplar com todo o esforço da mente a luz da sabedoria celestial, possuindo o monte daquele que, destruindo a pompa do império mutilado, cresceu com a colheita dos povos crentes e preencheu toda a terra. Do qual o salmista diz: “E ele me ouviu do seu santo monte”[15], isto é, ele me redimiu por meio de um homem que ele aceitou como unicamente santo. Qual homem, isto é, o homem Cristo, explicando seu próprio nome, diz: “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos”[16]. Mas isso também deve ser notado segundo a letra, pois não é sem motivo, nem de forma supérflua, que está escrito “Havia um homem”; embora pudesse parecer suficiente dizer “Havia um homem de Ramataim”; ou poderia ter sido congruentemente dito “Havia certo homem”; como também algumas verdades da fé hebraica ousaram interpretar. Mas isso foi adicionado, “Um”, em referência ao título de louvor de Elcana, que, de fato, segundo as advertências do apóstolo, sendo estável e imóvel, abundante na obra do Senhor, nunca foi levado por todo vento de doutrina[17]. Pois o sábio permanece como o sol, o tolo, porém, muda como a lua[18]. E a homens desse tipo convém perfeitamente também que, colocados no elevado observatório da mente e alegrando-se no fértil cume das virtudes, sejam chamados de posse de Deus.
Nem apenas qualquer um dos mais perfeitos em Cristo é chamado de “um homem”; mas também o coração e a alma da multidão dos crentes são chamados de “um”[19], imitando, segundo seu próprio modo, aquele a quem se diz: “tu porém és sempre o mesmo”[20]. Por outro lado, os réprobos não apenas são muitos em várias pessoas ou no diverso erro dos pecadores; mas também cada um deles, devido à multiplicidade de movimentos variados da alma, é “muito”. Com efeito, “o coração dos insensatos será diferente”[21] e “o homem de espírito duplo é inconstante em todos os seus caminhos.”[22]. Daí também as próprias cidades pelas quais eles guerreiam são chamadas de “uma só confusão” — e esta é a dos caldeus, isto é, dos ferozes, ou quase como demônios. Por outro lado, a outra cidade é chamada de “visão da paz”, da qual aquele único homem é o artífice e criador, de quem se diz: “Ouve, ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor”[23]. O coro, isto é, aquele único homem puro em casa, que canta: “Uma coisa pedi ao Senhor, isso buscarei: que eu habite na casa do Senhor todos os dias da minha vida”.[24]
“cujo nome era Elcana…” — Os nomes dos pais de Elcana revelam a vida, a fé, as virtudes e a elevação espiritual daqueles em cujos atos e por meio dos quais o Senhor costuma nascer espiritualmente, isto é, nos corações em que antes não havia fé nem amor por Ele, e agora se infunde por suas ações ou inspiração. Com efeito, Jeroão significa misericordioso; Elias, meu Deus é ele; Tau, sinal; Saf, vigia; Efrateu, o que é cheio de pó.
A vida dos santos, de fato, é grandemente fortalecida pela misericórdia — como ensina aquele que disse: “Dai contudo esmola segundo os vossos meios, e tudo será puro para vós”[25]. E aqueles que crêem na redenção por meio da Encarnação de Cristo confessam corretamente que Deus é seu Deus, pois o eterno Pai de Cristo, Senhor do céu e da terra, desde o momento da humanidade assumida, passou também a ser chamado de seu Deus. Por isso, está escrito: “tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe”[26]. As virtudes e as obras dos santos também testemunharam ser sinais da vinda do Mestre e do que convinha que Ele realizasse na carne de Cristo, pois o próprio Senhor diz: “pela boca dos profetas falei em comparações”[27]. E falando de Moisés no Evangelho, diz: “porque ele escreveu de mim”[28]. Se, portanto, se lê o nome do “filho de Tau” – isto é, do Testamento, ou do errante –, esse nome também convém às virtudes daqueles que sabem falar: “De fato, se ficamos arrebatados fora dos sentidos, é por Deus; e, se raciocinamos sobriamente, é por vós”[29]; e ainda: “Nós, estultos por causa de Cristo”[30]. “Mas aquilo que é loucura de Deus é mais sábio que os homens”[31]. Por fim, Paulo, estando acorrentado diante dos juízes do mundo, ao receber a faculdade de falar, não argumentava sobre os grilhões externos que o oprimiam, mas sobre a confiança nas virtudes pelas quais interiormente se glorificava. E ouviu: “Estás louco, Paulo! O teu muito saber tira-te o juízo”[32]. E o próprio Salvador fala ao Pai: “Ó Deus, tu conheces a minha insipiência”[33]. A quem, no Evangelho, os parentes, quase com violência, queriam prender, e os adversários diziam que possuía um demônio[34]. Mas, o contemplador dos júbilos celestes – que é a alma dos eleitos a sós consigo mesma – ignora a alegria dessa vida e dela aprendeu a não observar nada. No peito de tais homens, portanto, e de sua boca ou obra, o Salvador sempre nasce pela fé, esperança e caridade — Ele que foi chamado por um tempo “fértil e cheio de pó” (Efrateu), ao se dignar aparecer, por um tempo, assumindo a fragilidade da carne, carregando os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro[35]. E com a riqueza singular de sua própria vítima, destruiu o reino da morte e abriu-nos a entrada para a vida eterna. segundo a história literal, deve-se observar que Elcana é chamado Efrateu, não por ser da descendência de Efraim, mas por ter nascido numa cidade que pertencia à sorte daquela tribo. Pois, na verdade, ele era levita — isto é, dos filhos de Isaar, filho de Coate, filho de Levi — como relatam as palavras da Escritura.[36]
“Tinha ele duas mulheres…” — Ana, cujo nome significa “graça dele”, representa a Igreja; Fenena, cujo nome significa “conversão”, simboliza a Sinagoga.
E com razão Ana é a primeira e Fenena a segunda[37], porque os tempos primordiais do mundo tiveram santos que, levando vida semelhante à nossa, agradaram a Deus apenas pela justiça da fé, sem os ritos dos sacrifícios legais, dos sábados, das luas novas, da circuncisão e das purificações diversas, esperando ser salvos unicamente pela graça de Cristo, cuja encarnação fora revelada aos patriarcas. E assim, somente mais tarde, é que se celebra a conversão da Sinagoga, desde o Egito, para o Senhor.
“Fenena teve filhos…” — A Sinagoga, desde que foi desposada pelo Senhor, nunca deixou de gerar filhos espirituais por meio do ensino. Os gentios, contudo — embora entre eles, mesmo que poucos, alguns nunca tenham deixado de se submeter à graça — não puderam gerar filhos livres (isto é, espirituais) por meio da pregação; tampouco puderam acolher abertamente o seu Testamento, nem os profetas, nem os oráculos por mérito dos anjos.
“Este homem, nos dias determinados, subia da sua cidade…” — Subia o Senhor da vida comum dos fiéis; pois esta é a cidade do nosso Deus, sobre o seu monte santo.[38]
Ele se elevava nos seus santos, à medida que progrediam e subiam de virtude em virtude, para que, em dias determinados — isto é, a cada novo crescimento na ciência divina — o coração deles fosse inflamado a oferecer os sacrifícios da adoração e da boa obra. E tudo isso sob a guarda da Lei divina, na qual somente os humildes podem ter todos os pecados perdoados, e serem libertos do laço que prende os seus pés, aqueles que mantêm sempre os olhos voltados para o Senhor. Aí se deve buscar, e aí pode ser encontrado aquele que diz: “Eu sou Aquele que sou”[39]. Por isso, com razão, Silo se interpreta como “retirada”, “libertação” ou “onde Ele está”; significando a própria Lei, que ordena àqueles que progridem bem na justiça: “Buscai sempre a sua face”![40]
“[Ali] se encontravam os dois filhos de Heli…” — Heli significa “meu Deus”; Ofni, “descalço”; e Fineias, “boca muda”. Assim, havia sacerdotes consagrados ao Senhor, no tempo iminente da Encarnação do Senhor — homens pertencentes à Lei de um sacerdócio bom e filhos de sacerdotes que criam corretamente. Mas estavam desprovidos da graça que lhes permitisse cumprir o dever da ação e da pregação; não possuíam nem a função aberta da boca para o ensino, nem a ornada retidão de passos para caminhar na via da imaculada.
“Então chegou o dia, e Elcana sacrificou.” — Chegou, portanto, o tempo em que a sombra da Lei passou, e brilhou a luz da nova graça — o próprio Cristo, visível em carne, a verdadeira posse de Deus. Ele ensinou aos homens as coisas celestes e lhes concedeu, ao mesmo tempo, amar, esperar e crer. Pois aquilo que Ele concede aos seus como dom, diz-se que Ele mesmo faz — conforme o testemunho do Apóstolo: “Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar”[41]. E também o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis[42]; pois é Ele quem nos faz pedir, e o faz gerar por sua graça. Por isso, com razão, acima se dizia de Elcana que ele “subia, preparava-se e sacrificava”: ou seja, entende-se aqui como imagem daquele que ordena ascensões no coração dos bem-aventurados, no “vale de lágrimas”, ensina-os a adorar e a se dedicarem às boas obras.
“E deu à sua esposa Fenena…” — O Senhor, sofrendo na carne humana e conduzindo os homens ao divino, concedeu à Sinagoga — e a todos os que nela criam e o temiam, pequenos e grandes — diversas operações de virtudes e distribuições de graças. Mas à Igreja das nações, isto é, dos gentios, que ainda se encontrava apenas em poucos crentes — como o centurião, a mulher siro-fenícia e aqueles que, ao subirem para adorar no templo, disseram a Filipe: “Senhor, quiséramos ver Jesus”[43] —, a essa, Ele concedeu apenas dons restritos, destinados somente aos fiéis. Já a plena infusão dos carismas da graça foi adiada. E essa Igreja nascente estava triste, pois amava a Igreja futura, que já havia louvado na fé do centurião ou nas súplicas da mulher, e sabia que ainda era, por desígnio da bondade divina, adiada quanto à recepção plena dos sacramentos da fé. Por isso, na hora da Paixão, Ele diz: “Minha alma está triste até a morte”[44]. Não diz “triste por causa da morte”, mas “até a morte”; pois sabia que, por meio dela, destruiria aquele que tinha o império da morte, e que após a morte alcançaria com alegria a salvação dos gentios.
“A sua rival afligia-a também…” — A Sinagoga afligia a gentilidade, lançando-lhe em rosto que, por causa de grandes pecados, fora rejeitada por Deus; que não recebera a palavra d’Ele, nem os oráculos dos profetas — pelos quais uma descendência espiritual, agradável a Deus, deveria ser gerada. Por isso, dizia-se que o “ventre da sua mente” estava privado do sêmen espiritual das virtudes celestes e dos povos crentes.
“Isso se repetia cada ano…” — Chama o Templo do Senhor de tabernáculo do testemunho, que permaneceu em Silo até aqueles tempos. Considera, porém, os anos individuais ou as virtudes individuais pelas quais a Sinagoga progredia na casa do Senhor; e, ao repreender os gentios por estarem tão distantes dela, provocava-os ao pranto. Ou, certamente, compreende os longos tempos da lei dada. Pois, ao ler as Sagradas Escrituras, descobrirás que, quando Israel saiu do Egito, quando, por assim dizer, começou o tempo de desposar a Sinagoga com Deus, também um grande número de estrangeiros veio com eles, para ser consagrado e unido aos mistérios legais do Senhor; e daí até o tempo da Encarnação do Senhor, nunca faltaram ali aqueles que acreditavam com retidão. Mas sua situação era de tamanha submissão e pobreza — como moradores temporários, peregrinos e desprezados — em comparação com o povo plenamente estabelecido em sua própria terra, que eles, prostrados aos pés do Senhor e menos aptos a receber o pão vivo que desceu do céu, contentavam-se em pedir e esperar ao menos pelas migalhas que caíam da mesa do Senhor, como pequenos cães.[45]
“Dizia-lhe Elcana, seu marido; Ana, por que choras?” — O pranto de Ana simboliza aqueles que sofrem por não estarem sob a Lei nem por terem recebido suas promessas, como os gentios. Elcana, aqui figura do próprio Deus, a consolar a Igreja (Ana), para que ela não se entristeça por não ter recebido, como a Sinagoga, a legislação, as promessas ou os oráculos de Deus. Pelo contrário, que ela se alegre e exulte com imensa alegria por ter recebido agora algo maior do que tudo isso: a graça perfeita, o dom supremo, o próprio mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo — a quem ela não conhecia, nem esperava, mas que agora mereceu acolher em sua vinda. Essa passagem não apenas mostra a diferença entre os dois povos (judeus e gentios), mas também indica a diferença de méritos entre as pessoas dentro de cada um deles, e os prêmios diversos correspondentes a tais méritos. Pois Cristo sempre amou mais as lágrimas humildes dos penitentes do que a justiça rígida dos orgulhosos — e sempre amará. Assim, desprezando o orgulho do fariseu — que se vangloria de cumprir todos os mandamentos legais e se considera fecundo como pai de dez filhos[46] —, Cristo prefere voltar seus olhos para os lamentos curvados do publicano arrependido.[47]
CAPUT. II. Ana, em meio a orações e lágrimas, faz o voto de nazireu ao Senhor se tiver um filho; e com a bênção do sacerdote Eli, ela retorna para casa com sua família. “Levantou-se então Ana…” — Esta leitura mostra, de modo figurado, a humilde devoção da Santa Igreja. Ela se apresenta diante dos doutores dos judeus, que ora zombam, ora anunciam a fé. A Igreja deseja, ou que Cristo nasça espiritualmente dentro de seu próprio povo pela fé, ou que seu povo seja espiritualmente regenerado em Cristo.
“Levantou-se então Ana…” — A Igreja se levanta da longa dor de sua desolação, agora que recebeu confiança no Senhor para suplicar. Após ter sido alimentada pelo seu santíssimo corpo e embriagada com o cálice de seu precioso sangue, enquanto ainda permanecem no judaísmo — como que só os doutores e os ministros do antigo sacerdócio sobre a cátedra de Moisés — observando a entrada do reino dos céus, mas nem entrando, nem ensinando a entrar, a Igreja, então, começa a buscar do Senhor, com lágrimas e orações, dons que, mesmo conhecidos ou percebidos como mistérios da encarnação, antes ela não se atrevia a esperar.
“E Ana fez um voto…” — Ana (isto é, a Igreja) faz um voto: se a Palavra for entregue às nações, e a graça da fé for concedida a elas, e um povo forte em virtudes surgir dentre os gentios, este povo servirá ao Senhor até que se completem os tempos das nações. E jamais, à semelhança dos judeus, se curvará diante de Baalim, de Astarot ou de outras abominações das gentes. Mas se entenderes os “dias” de maneira alegórica, como “virtudes”, então todos os dias de sua vida são dados ao Senhor: tudo o que ela vive de honesto, tudo o que pratica de luminoso em mente ou corpo, não atribui a si mesma, mas testifica com o apóstolo: “Pela graça de Deus, sou o que sou”.[48]
“E a navalha não passará sobre sua cabeça…” — isto significa que a repreensão do pecado não violará sua consciência. Antes, tanto quanto é possível ao ser humano, ela se empenha em consagrar a Cristo todos os seus pensamentos, palavras e ações — que como que brotam suavemente do “cérebro do coração” — como um verdadeiro nazireu. Afinal, os cabelos dos apóstolos, que são santos, “não cairão de sua cabeça”[49]. Já os leprosos purificados, a mulher tomada pelos inimigos, e outros tipos semelhantes, não apenas devem raspar os cabelos, mas também todos os pelos do corpo — pois são impuros ou contaminados. Isso indica que toda ação leviana, mesmo que nela se encontre algo de perfeição aparente, deve ser entregue ao seu verdadeiro Autor, eliminando o supérfluo. Não dizemos isso para afirmar que algum santo tenha vivido sem pecado, nem que se aplique a outro, senão a Cristo, o que está escrito: “Tudo o que empreende, prospera.”[50]. Mas devemos todos nos empenhar em servir ao Senhor “em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida”[51], conforme está escrito: “Juro e determino guardar os teus justos decretos”[52]. Ainda assim, não é em vão que se diz também: “Não chames a juízo o teu servo, porque nenhum vivente é justo na tua presença”[53]. Por isso, com mais verdade, essas palavras de Ana podem ser entendidas como ditas pela Igreja a respeito do próprio Senhor: a quem ela deseja que nasça constantemente, por nova graça de virtude, no coração dos fiéis. Pois só Ele viveu na carne sem pecado, e todos os dias de sua vida foram dados ao Senhor, e nada havia nele que precisasse ser corrigido por arrependimento.
“Aconteceu que, enquanto ela multiplicava as preces…” — Isso se refere ao momento em que a Igreja começou a se multiplicar pelo mundo inteiro, e com isso também começaram a se multiplicar os novos sinais de sua devoção — cuja glória não vem dos homens, mas de Deus. Então, os sacerdotes dos judeus passaram a observar suas aparências exteriores: queriam saber se ela vivia como os gentios ou como os judeus. Mas a Igreja, aos poucos, deixando o judaísmo, preferiu seguir apenas os mistérios da fé — aquela mesma que purifica os corações — e alegrou-se em agradar a Cristo invisível com a sabedoria dessa.
“Apenas se moviam os seus lábios…” — Isso descreve perfeitamente a ação da Igreja, a mais digna de atenção divina: é aquela que antecipa os próprios ensinamentos do Senhor sobre a devoção, quando Ele diz: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo”.[54]
“Heli, julgando-a ébria…” — O sacerdote hebreu (Heli) entendeu assim: ele via a gentilidade, agora convertida à fé, ainda carregada pela confusão dos pecados. E disse a ela, figuradamente: “Até quando serás mantida cativa pelo vínculo da culpa original? Purifica-te por meio da circuncisão, e assim serás salva no número dos prosélitos.”
“Ana, respondendo, disse: Não é assim, meu senhor…” — Respondendo, a Igreja oriunda dos gentios diz: “De modo algum, ó sacerdote da Judeia, penses que sou carregada de pecados, pois já fui purificada pela fonte do batismo e pela participação no sagrado Corpo e Sangue. Tornei-me templo interior de Cristo.” Fechando em si mesma a Lei de Deus segundo o homem interior, já não é mais pecadora, mas ainda assim se reconhece como profundamente aflita — a tua serva. Ela o chama de Senhor com justiça, pois desde tempos de antiga eleição, o Senhor a precedeu. “Quem me livrará do corpo desta morte?” — A graça de Deus, por Jesus Cristo. E por isso, aos pés sagrados do Senhor, a alma derretida no fogo do amor derrama-se em lágrimas diante de Sua piedade.
“Não tomes a tua escrava por uma das filhas de Belial…” — “Não me compares às almas enganadas pela fraude do diabo; pois, arrependida de todo o coração, renunciei a Satanás e a todas as suas obras e pompas. Além disso, abracei com zelo o jugo suavíssimo de Cristo, aquele jugo que Satanás outrora rejeitou nos céus, razão pela qual mereceu o nome de Belial, isto é, ‘sem jugo’. Eu, porém, o recebi com diligência.”
“Então Heli disse-lhe: Vai em paz…” — A mesma pessoa que antes a marcara como perturbada, agora, reconhecendo a santidade do que ela fizera, a abençoa. Assim também, os sumos sacerdotes — tomados de inveja — desprezavam os começos salvíficos da Igreja, julgando-os semelhantes à embriaguez, como se fossem atos de pessoas ébrias. No entanto, alguns deles, mais tarde, ao reconhecerem que era vontade divina, passaram a apoiar os fiéis. Muitos daqueles que acusaram os apóstolos, dizendo que estavam cheios de vinho quando falavam pelo Espírito Santo[55], após ouvirem a verdade, creram e acolheram o mistério que antes tinham ridicularizado.
“E a mulher foi pelo seu caminho, e comeu…” — Assim também a Igreja prosseguia o seu caminho, sustentada pela esperança da piedade celestial, crescendo na fé e no amor de Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida[56]. E, alimentada pelos manjares consoladores e fortalecedores da Sagrada Escritura, nada — nem perseguições, nem seduções — pôde desviá-la do Deus verdadeiro, aquele a quem uma vez ela reconheceu. Como diz o salmo: “Preparais para mim a mesa à vista de meus inimigos”.[57]
“E se levantaram de manhã cedo, e adoraram…” — Aqui se manifesta o progresso da Igreja em crescimento. Antes, Ana levantava-se sozinha para rezar, e nem se mencionava a hora em que ela orava. Agora, tendo recebido a bênção do sacerdote, ela se levanta pela manhã, não mais sozinha, mas acompanhada de seu marido e de toda sua família, todos perseverando juntos na oração. Inicialmente, a Igreja buscava o Senhor apenas em poucos membros; mas quando recebeu o crescimento da fé pelos mestres fiéis vindos do judaísmo, e as trevas do paganismo foram dissipadas, pôde clamar, como diz o salmo: “Dos confins da terra clamo a ti, quando o meu coração desfalece”[58]. Tamanha é a graça transbordante deste dom celestial, que a Igreja já não hesita em considerar até mesmo o próprio Senhor — ou seja, seu Esposo — como advogado junto ao Pai.[59]
“Voltaram para sua casa, em Ramata…” — Ramata significa “altura”. Também nós, tendo completado a oração, para alcançarmos o que pedimos, devemos retornar habitualmente — não para as ações frívolas do passado — mas para uma consciência elevada pela fé e pela virtude. Que nossa mente, antes estéril e infrutífera, agora frutifique em virtudes consagradas a Deus. E que nosso semblante não se altere por vaidade ou desvio, mas permaneça conforme aquele que assumimos na oração: mesmo após as lágrimas, que continue com fervor de caridade e devoção constante.
CAPUT. III. Ana chama seu filho recém-nascido de Samuel, a quem ela desmamou e dedicou ao Senhor para sempre com presentes e sacrifícios. “[E] Elcana conheceu Ana, sua mulher…” — Nessa leitura, a Igreja aplica aos seus filhos o que se diz de Ana: filhos concebidos pela fé, gerados no batismo, alimentados pela doutrina, recomendados pelas virtudes de uma vida pura, e integrados na unidade da Igreja Católica, que tem origem nos judeus fiéis. Na verdade, tudo isso é entregue ao próprio Senhor, que rege a Igreja, e a quem estes filhos devem servir todos os dias de sua vida.
“Elcana conheceu Ana, sua mulher…” — Aqui se figura o Senhor, que, cheio de misericórdia, deseja enriquecer a Igreja dos gentios por sua graça. Por meio da pregação do Evangelho, Ele semeia sua Palavra pelo mundo e lembra-se da humanidade, convertendo todos os confins da terra a si.
“Assim sucedeu que, havendo Ana concebido, passado o seu tempo…” — Ocorreu, após o período de intensa iluminação espiritual e da manifestação das virtudes com que os Apóstolos brilharam no mundo, que a gentilidade concebeu pela catequese e deu à luz, pelo batismo, um povo crente e fiel a Deus. Mais ainda: é correto dizer que Deus está presente em seu povo crente, pois ambos os enunciados são válidos: tanto pela razão da fé e da verdade, quanto pelo próprio nome de Samuel. Com efeito, Samuel significa: “Ali está Deus” ou “O nome dele é Deus”. Sim, “Ali está Deus” — no povo que nascerá, o povo que o Senhor formou para si mesmo[60]. E “Seu nome é Deus” — mas de quem, senão daquele que quis manifestar-se nascendo constantemente em seus fiéis pela graça, segundo o que Ele mesmo afirmou: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”[61]. E não se espante ninguém que tenhamos dito que o esposo e o filho de Ana prefiguram Cristo, pois de fato, o mesmo Mediador entre Deus e os homens, é ao mesmo tempo Esposo e Filho da Santa Igreja, a quem governa. Ele é Esposo, para que a Igreja creia, espere e o ame, e para que ela receba sua ajuda. Ele é Filho, pois acaba de nascer, pela graça, no coração dos que crêem, esperam e amam.
“Elcana, seu marido, foi com toda a sua casa…” — Cada um abunde em seu próprio entendimento[62]. O Senhor sobe com sua casa — isto é, com a Igreja dos perfeitos, que é ao mesmo tempo dom de Deus e sede de sua presença — para oferecer ao Pai que está nos céus o voto de seus próprios atos. Porém, a “domus” (casa) da Igreja permanece ainda em parte entre aqueles que ainda não podem alimentar-se do sólido alimento da Palavra. Alguns tendo recebido os rudimentos da fé, ainda são infantis nos sentidos, mas com o tempo e o exercício da graça de Cristo começarão a ter discernimento do bem e do mal[63], e poderão então dizer com o Apóstolo: “quando me tornei homem feito, dei de mão às coisas que eram de menino”[64]. Estes se tornam dignos da concepção espiritual do Senhor, perseverando na vocação a que foram chamados e poderão participar do ministério sacerdotal, alimentar-se do altar, e até ouvir também acerca das realidades supremas da divindade, e discernir nas leis os sacramentos. Tal é o progresso de todos os crentes em Cristo: tais foram os primeiros passos da gentilidade convertida, entre os doutores judaicos, como se fossem os filhos de Fenena.
“Depois de o ter desmamado, levou-o consigo…” — A Igreja conduz seus filhos, aos quais alimenta racionalmente e sem engano[65], e educando-os, faz com que avancem dos rudimentos infantis do novo homem para estados mais perfeitos. Conduz, digo, aqueles que, pela graça auxiliadora de Cristo, se tornam fortes em entendimento, para a comunhão daqueles que, pela observância da lei divina, já se tornaram templo de Deus. E os conduz nas três figuras de pessoas: os casados, os continentes e os doutores. Estes, pela pureza de sua vida, são aptos para os sacrifícios divinos, têm seus corpos preparados para morrer por Cristo, possuem um coração contrito, humilhado pelo temor e pela esperança, e, com o cálice sóbrio da embriaguez espiritual, abraçam plenamente o amor fervoroso da graça espiritual[66]. Pois, sendo a ânfora uma medida, ela indica o modo de amor pelo qual cada um é ordenado a amar o próximo como a si mesmo[67]. E, como contém três medidas, adapta-se justamente às três figuras de pessoas mencionadas, das quais toda a Igreja é composta.
“O menino era ainda muito criança…” — O povo das nações (isto é, os gentios) havia sido recentemente convertido à fé, ainda em sua infância espiritual, e, mesmo assim, ofereceram muitos mártires, os quais, com devoção unânime, derramaram seu sangue por Cristo[68]. Assim, enxertaram o ramo bravo (zambujeiro) na boa oliveira, conforme ensina o Apóstolo Paulo[69]. Essa obra de conversão e de martírio foi realizada pelos ministros da Palavra — os missionários e os apóstolos.
“E ali adoraram o Senhor.” — Aquilo que o próprio Senhor ordena: “Orai sem cessar”[70], e “não desfaleçais”[71] é cumprido pela Igreja sob a figura de Ana, que não cessa de suplicar ao Senhor no início de seus votos, em seu progresso e em sua própria disposição.
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Bede, Analecta Hymnica – L. Hymnographi Latini. Series Altera
- (14. ) In Quadragesima.
1. Adesto, Christe, cordibus, Celsa redemptis caritas, Infunde nostris fervidos Fletus, rogamus, vocibus.
- Ad te preces, piissime Iesu, fide profundimus, Dimitte, Christe, quaesumus, Factis malum quod fecimus.
- Sanctae crucis signaculo Tuo sacrato corpore Defende nos ut filios, Omnes rogamus, undique.
NOTAS:
[1] Talvez, o exemplo mais famoso seja o grande doutor angélico, Sto. Tomás de Aquino, em sua Catena Aurea, fazendo uso de diversas reflexões do Venerável. Mas, é comuníssimo encontrá-lo referenciado em encíclicas, cartas apostólicas e nos tantos outros documentos eclesiais, bem como nos escritos dos santos, de nossa Santa Igreja. Por curiosidade, foi citado por Dante na corte celeste do céu do Sol no décimo canto:
“Mais longe, em cada flama purpurina,
Beda, Isidoro estão, Ricardo esplende,
Que além do humano o pensamento afina.”
[2] O documento que o oficializa enquanto doutor pode ser conferido aqui.
[3] A tradução foi integralmente feita a partir do latim, através da obra, também sem tradução portuguesa: BELLARMINO, Roberto. De scriptoribus ecclesiasticis liber unus. P.252-254. Pode ser conferida diretamente aqui.
[4] Ambos santos.
[5] Provavelmente referindo-se à Companhia de Jesus.
[6] “Usuardo de Saint-Germain, O.S.B. (em latim: Usuardus Sangermanii) foi um monge da Abadia de Saint-Germain-des-Prés, em Paris. A história completa da relação de textos utilizada por Usuardo foi esclarecida pela primeira vez por Quentin, assim como a evolução dos primeiros martirológios medievais que culminaram na obra de Usuardo. Segundo Quentin, Usuardo provê o que era um substancial resumo do “Martirológio” de Ado numa forma mais adaptada ao uso litúrgico na prática. Em certos pontos, porém, Usuardo reverte para uma recensão lionesa do “Martirológio” expandido de Beda atribuída ao arcediago Floro de Lyon.” (Wiki)
[7] A tradução foi integralmente feita a partir do latim, através da obra: The Complete Works of Venerable Bede, in the original Latin, collated with the Manuscripts, and various printed editions, and accompanied by a new English translation of the Historical Works, and a Life of the Author. By the Rev. J.A. Giles (London: Whittaker and Co., 1843). 8 vols. Mas também pode ser conferida aqui.
[8] Como um bom monge medieval, São Beda não referencia diretamente os trechos citados; entendia-se que eles eram comuns a todos e que o saberiam com a mínima menção. Para facilitar a vida do nosso leitor, adicionaremos a referência das passagens nas nossas notas, sempre usando as traduções consagradas da Bíblia Ave Maria ou a Matos Soares. Quanto aos interessados em entender como os monges faziam esse processo de recordação, ver O livro da memória: Um estudo sobre a memória na cultura medieval.
[9] Rm 15,4.
[10] 1 Cor 10,11.
[11] At 3,24.
[12] Mt 13,52 — “Por isso todo o escriba instruído nas coisas do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.
[13] “Armthem Seipha (Sofim). Cidade de Elcana e Samuel. Está situada (na região de Thamna), próxima a Dióspolis. Pátria de José de Arimateia, mencionado nos Evangelhos.” — Eusébio de Cesareia, em seu Onomasticon, 144:28–29
[14] Ef 4,5 — “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo.”
[15] Sl 3,5 — “Com a minha voz clamei ao Senhor, e ele ouviu-me (benigno) do seu santo monte”.
[16] Pr 8,19 (Matos Soares), Pr 8,22 (Ave Maria) — “O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma.”; “O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra.”
[17] Ef 4,14 — “para que não mais sejamos meninos flutuantes e levados ao sabor de todo o vento de doutrina, pela malignidade dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.”
[18] Eclo 27,12 (Ave Maria, na MT, antecede-se em dois versículos) — “O homem santo permanece na sabedoria, estável como o sol; mas o insensato é inconstante como a lua.”
[19] At 4, 32 — “A multidão dos que criam tinha um só coração e uma só alma, e nenhum dizia ser sua coisa alguma daquelas que possuía, mas tudo entre eles era comum.”
[20] Sl 101,28
[21] Pr 11
[22] Tg 1,8
[23] Dt 6,4
[24] Sl 26,4
[25] Lc 11,41
[26] Sl 21,11
[27] Os 12,10, LXX (καὶ λαλήσω πρὸς προφήτας καὶ ἐγὼ ὁράσεις ἐπλήθυνα καὶ ἐν χερσὶν προφητῶν ὡμοιώθην), optamos pela versão Ave Maria por conservar nesse caso o uso de “comparações”; χερσὶν é normalmente expresso como “mãos”. Na Matos Soares: “por meio dos mesmos profetas apresentei-vos parábolas”.
[28] Jo 5,46
[29] 2Cor 5,13
[30] 1Cor 4,10
[31] 1Cor 1,25 — “Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.”
[32] At 26,24
[33] Sl 68,6
[34] Mc 3,21-22 — “Quando os seus parentes ouviram isto, foram para o prender; porque diziam: ‘Está louco.’ Os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: ‘Está possesso de Belzebu, e em virtude do príncipe dos demônios é que expele os demônios.’”
[35] 1Pd 2,24 — “foi ele mesmo que levou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro (da cruz), a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça: por suas chagas fostes sarados (Is. 53, 5).”
[36] 1Cr 6, 15, opto nessa situação por referenciar a Ave Maria pela extensão da genealogia na Matos Soares ser mais espaçada, mas se pode encontrá-la no mesmo capítulo — “Filhos de Levi: Gérson, Caat e Merari. Eis os nomes dos filhos de Gérson: Lobni e Semei. Filhos de Caat: Amram, Isaar, Hebron e Oziel. Filhos de Merari: Mooli e Musi. Eis as famílias de Levi, segundo suas casas patriarcais. De Gérson: Lobni, seu filho, Jaat, seu filho, Zama, seu filho, Joa, seu filho, Ado, seu filho, Zara, seu filho, Jetrai, seu filho. Filhos de Caat: Abinadab, seu filho, Coré, seu filho, Asir, seu filho, Elcana, seu filho, Abiasaf, seu filho, Asir, seu filho, Taat, seu filho, Uriel, seu filho, Ozias, seu filho, Saul, seu filho. Filhos de Elcana: Amasai e Aquimot, Elcana, seu filho, Sofai, seu filho, Naat, seu filho, Eliab, seu filho, Jeroão, seu filho, Elcana, seu filho. Os filhos de Samuel: o primogênito Joel e Abias. Filhos de Merari: Mooli, Lobni, seu filho, Semei, seu filho, Oza, seu filho, Samaá, seu filho, Hagias, seu filho, Asaías, seu filho.” e em 1Sm 1,1 lemos — “Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliu, filho de Toú, filho de Suf.”
[37] 1Sm 1, 2 — “Tinha ele duas mulheres, uma chamada Ana e outra Fenena.”
[38] Sl 47,2 — “Grande é o Senhor e muito digno de louvor, na cidade do nosso Deus. O seu monte santo”
[39] Ex 3,14
[40] Sl 104, 4
[41] Fl 2,13
[42] Rm 8,26 — “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis.”
[43] Jo 12,21
[44] Mt 26,38; Mc 14,34
[45] Mt 15,27 — “Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos…”.
[46] 1Sm 1,8 — “Dizia-lhe Elcana, seu marido; Ana, por que choras? não comes? Por que se aflige o teu coração? Porventura não sou eu melhor para ti, do que dez filhos?”
[47] Lc 18,10-14 — “Subiram dois homens ao templo a fazer oração: um era fariseu, outro publicano. O fariseu, de pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes na semana; pago o dízimo de tudo o que possuo’. O publicano, porém, conservando-se a distância, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim pecador’. Digo-vos que este voltou justificado para sua casa, o outro não; porque quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”.
[48] 1Cor 15,10
[49] Lc 21,17-18 — “Sereis odiados por todos por causa do meu nome. Entretanto, não se perderá um só cabelo de vossa cabeça.”
[50] Sl 1,3
[51] Lc 1,75
[52] Sl 118,106
[53] Sl 143,2
[54] Mt 6,6
[55] At 2,4-13 — “Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Estavam então residindo em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Logo que se deu este ruído, acudiu muita gente, e ficou pasmada, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam todos atônitos e admiravam-se, dizendo: ‘Porventura não são Galileus todos estes que falam? Como é que os ouvimos falar cada um de nós a nossa língua materna? Partos, Medos, Elamitas, os que habitam a Mesopotâmia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e várias partes da Líbia, vizinhas de Cirene, e os vindos de Roma, tanto Judeus como prosélitos, Cretenses e Árabes, todos os ouvimos falar nas nossas línguas das maravilhas de Deus.’ Estavam todos atônitos e fora de si, dizendo uns para os outros: ‘Que quer isto dizer?’ Outros, porém, escarnecendo, diziam: ‘Estão cheios de vinho doce.’”
[56] Jo 14,6 — “Jesus disse-lhe: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim.”
[57] Sl 23,5
[58] Sl 60,3
[59] 1Jo 2,1 — “Filhinhos meus, eu vos escrevo estas coisas, para que não pequeis; mas, se algum pecar, (não desespere, pois) temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo, o justo.”
[60] Is 43,21 — “Eu formei este povo para mim, ele publicará o meu louvor.”
[61] Mt 12,50
[62] Rm 14,5 — “Um distingue entre dia e dia; outro, porém, considera iguais todos os dias: cada um siga o seu parecer.”
[63] Hb 5,12–14 — “Com efeito, devendo vós ser já mestres, atendendo ao tempo (decorrido desde que vos convertestes), tendes ainda necessidade de que novamente vos ensinem os primeiros rudimentos da palavra de Deus: tornaste-vos tais que tendes necessidade de leite, e não de alimento sólido. Ora o que está ainda a leite, é incapaz da doutrina da justiça, porque é menino. O alimento sólido, porém, é para os perfeitos, para aqueles que pelo hábito têm os sentidos exercitados para discernir o bem e o mal.”
[64] 1Cor 13,11
[65] 1Pd 2,2 — “ele que não cometeu pecado, e em cuja boca se não encontrou engano (Is. 53, 9)”
[66] “Vês como o Espírito transforma noutra imagem aqueles em quem habita? Facilmente ele os faz passar do amor das coisas terrenas à esperança das realidades celestes, e do temor e da indecisão à firme e generosa fortaleza de alma. Foi o que sucedeu com os discípulos: animados e fortalecidos pelo espírito, nunca mais se deixaram intimidar pelos seus perseguidores, permanecendo inseparavelmente unidos e fiéis ao amor de Cristo.” — Do Comentário sobre o Evangelho de João, de São Cirilo de Alexandria, bispo (Lib. 10,16,6-7: PG 74,434). Retirado da Liturgia das Horas.
[67] Mc 12,31 — “O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv. 19, 18). Não há outro mandamento maior do que estes.”
[68] Tão forte fora a perseguição no início da Igreja, que de seus primeiros 33 papas, 28 foram martirizados. Com o adendo que até o 35° Papa, todos foram canonizados.
[69] Rm 11,17 — “Se algum dos ramos foram quebrados, e tu, sendo um zambujeiro, foste enxertado em seu lugar, e foste (em seu lugar) participante da seiva da raiz da oliveira…”
[70] Lc 18,1 — “Propôs-lhes Jesus uma parábola para mostrar que é necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo.”
[71] 1Ts 5,17 — “Orai sem cessar.” Ressoando Efésios 6:18 — “Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos.”