Reflexões sobre o amor do poeta por Beatriz
Por Darrell Falconburg
Tradução e notas de Gabriel Marvin
Comentários de Helkein Filosofia
É bem sabido que Dante foi um dos maiores poetas da civilização ocidental, e que sua magnum opus, A Divina Comédia, é considerada uma das maiores realizações da humanidade, uma obra-prima que nos revela algo acerca do significado do homem e da realidade. Tomando de empréstimo palavras de Roger Kimball, a escrita de Dante é “o fruto de uma maestria confiante, como The Tempest[1] ou o quarteto Op. 135 de Beethoven,”[2] e contém aquela espécie de beleza sedutora que nos atrai para fora deste mundo, levando-nos a contemplar, como o próprio Dante, os mais elevados céus. Numa época em que os grandes homens e mulheres do passado não raro são legados ao esquecimento, é possível dizer com alegria que Dante permanece, século após século, como um de nossos luminares.
Comumente lembrado por conta de sua jornada através do cosmos espiritual, Dante é menos reconhecido por ter sido o autor de uma grandiosa história de amor, aquela que envolve Beatriz e o próprio poeta tal como contada na Vita Nuova e na A Divina Comédia e, portanto, é a este romance que gostaria de voltar nossa atenção. No decorrer de sua história ficará evidente o quanto ainda podemos aprender, à luz de Dante, sobre a natureza do amor e de sua capacidade de nos agraciar – algo especialmente necessário em nosso tempo, décadas após as investidas da revolução sexual e sua rejeição da compreensão cristã do amor.
***
Em seu Vita Nuova, Dante conta a história da sua admiração por uma mulher florentina chamada Beatriz, pela qual apaixonou-se à primeira vista aos nove anos de idade e assim permaneceu pelo resto de sua vida. Entretanto, Beatriz morreu aos vinte e quatro anos de idade, causando em Dante uma profunda tristeza. Desejando imortalizar o amor de sua vida, o poeta compôs em sua memória 31 poemas e comentários alternados entre prosa e verso num estilo semelhante ao de Boécio, um de seus heróis intelectuais e autor de um de seus livros favoritos, A Consolação da Filosofia.[3] Caso a Vita Nuova fosse única entre as obras de Dante, teria sido suficiente para lhe garantir a reputação de grande poeta da civilização ocidental.
Em seu Vita Nuova Dante empresta cautelosamente o conceito de amor cortês em voga no medievo e utiliza-o como expressão de sua admiração por Beatriz. Como apontado por Mitchell Kalpakgian, o conceito de amor cortês parte, em muitos aspectos, da sabedoria perene[4] encontrada nos grandes livros da civilização ocidental e nos ensinamentos da Igreja, mas em outros revela-se pouco tradicional e dotado de certo radicalismo, de forma que o autor sublinha que a concepção do amor cortês perante o casamento era algo pouco romântico, um arranjo algo antiquado e carente da mística da paixão erótica, sendo que por vezes esta forma de amor encontrava seu termo em relacionamentos proibidos ou adúlteros – como o retratado no romance de Lancelot e Guinevere – e, assim, opunha-se os ensinamentos cristãos sobre o amor e o casamento.[5] Consciente dos percalços, Dante utiliza o conceito [de amor cortês] com cuidado para que lhe sirva a seu propósito poético enquanto contando a história de seu amor por Beatriz, e assim afasta-se dos aspectos mais problemáticos dessa tradição literária; em certo ponto de seu livro Dante sugere que o amor acontece sem querer ou esperar,[6] – como se diz popularmente, foi amor à primeira vista – e foi este amor que direcionou seus esforços enquanto poeta; assim, a influência e o sentido do amor cortês noVita Nuova é clara.
De qualquer forma, mesmo durante seus primeiros anos enquanto escritor, Dante evitou os exageros do amor cortês e enfatizou que – mesmo em meio à sua paixão por Beatriz – ainda era guiado pela luz da razão, não permitindo que as paixões lhe dominassem e, assim, pôde conformar-se à lei moral. Nota-se assim que amor dantesco no Vita Nuova não era de caráter físico ou adúltero e nem escravo do apetite sexual mas algo apaixonado e poético. Dante deixou claro que os aspectos imorais e não-tradicionais do amor cortês — paixão, segredo e adultério — não combinavam com o seu amor por Beatriz, e então esclareceu que “nunca permitiu ao amor governá-lo” sem o “fiel conselho da razão” e,[7] por conseguinte, que considerava que as faculdades da alma devessem alinhar-se adequadamente à razão enquanto governante dos desejos.[8]
Enquanto fiel católico e defensor da sabedoria perene da tradição ocidental, Dante bem sabia que o amor verdadeiro é algo que nos eleva moralmente e não é algo que oponha-se à razão: o amor não nos destrói ou torna-nos miseráveis, como tantas vezes afirmaram os amantes corteses, e não surpreende que Robert Hollander sugira que o amor dantesco por Beatriz possa ser entendido como “relacionado à presença física e numenal de Cristo”.[9] Nesse sentido, os poemas encontrados na Vita Nuova expressam que o amor de Dante por Beatriz ajuda o poeta a encontrar Cristo numa “vida nova” – e até mesmo o nome da obra nos recorda a frequente insistência de São Paulo para que nos convertamos de uma vida velha para uma nova[10] –; o amor, no fim das contas, é um chamado à conversão.
Em certo ponto da escrita de Vita Nuova, Dante precisou interromper abruptamente seu trabalho após perceber que sua descrição da visão de Beatriz no céu estava aquém da espécie de elogio merecido por ela; e não é um motivo impressionante visto que, se Dante realmente a amou como dizia, então fazer uso de um gênero literário não-tradicional e duvidoso para transmiti-lo decerto é algo abaixo das expectativas. Foi nesse momento em que Dante decidiu não tornar a escrever a respeito de sua “santíssima dama” até que pudesse fazê-lo com maior competência. Portanto, terminou a Vita Nuova da seguinte forma:
“Feito esse soneto, apareceu-me admirável visão, na qual vi cousas que me fizeram propor-me não mais falar dessa abençoada, enquanto não pudesse mais dignamente ocupar-me com ela. E, para chegar a isso, esforço-me o quanto posso, e ela bem o sabe. De modo que, se aprouver àquele por quem todas as cousas vivem, que minha vida dure por alguns anos, espero dizer dela o que nunca se disse de nenhuma outra.
E, depois, praza a quem é senhor da cortesia que minha alma possa ver a glória de sua dama: isto é, da abençoada Beatriz que gloriosamente contempla aquele qui est per omnia saecula benedidus”.[11]
A história de amor entre Dante e Beatriz cessou momentaneamente e atingiria seu ápice apenas anos depois, em A Divina Comédia.
***
No Canto V do Inferno, Dante retrata algo importante à nossa análise através das personagens Francesca e Paulo, visto que este canto pode ser interpretado como o afastamento do poeta dos excessos do amor cortês ou do questionamento da eficácia de todo o gênero literário. Seja como for, vemos uma transformação do cortês para sagrado na forma como Dante retrata a sua admiração por Beatriz. Neste ponto do Inferno, conta-se que Francesca e Paulo sucumbiram ao pecado da luxúria após lerem o conto de amor cortês de Sir Lancelot e, com lágrimas a escorrer de seus olhos, Francesca conta, ao peregrino Dante, como pecou:
Líamos um dia nós dois, para recreio,
de Lancelote e do amor que o prendeu;
éramos sós, e sem qualquer receio.
Vezes essa leitura nos ergueu
olhar a olhar, no rosto desmaiado,
mas um só ponto foi que nos venceu.
Ao lermos o sorriso desejado
ser beijado por tão perfeito amante,
este, que nunca seja-me apartado,
tremendo, a boca me beijou no instante.
Foi Galeoto o livro, e o seu autor;
nesse dia não o lemos mais adiante”.[12]
Giuseppe Frascheri — Dante e Virgílio encontram Paolo e Francesca 1846
Francesca descreve o amor, segundo o modo cortês, como uma compulsão irresistível, e Dante poderia concordar, de certa forma, dado seu evidente empenho, num primeiro momento, na tradição literária do amor cortês; por outro lado, [Dante] jamais sugeriria que, por conseguinte, seria aceitável que uma pessoa permitisse a sobreposição da paixão sobre o amor e, sendo assim, uma tempestade de apetites não pode ser adequadamente chamada de amor. O Canto V do Inferno ensina-nos que o amor pode ser apaixonado desde que de acordo com a retidão da razão e da moralidade e não pode levar-nos, como o fez com Francesca e Paulo, a atos luxuriosos: o verdadeiro amor não nos faz, numa torrente de paixões, debater-nos para todos os lados e também não pode ser separado da verdade. Ao contrário de Francesca e dos seus muitos seguidores no mundo pós-Revolução Sexual, o verdadeiro amor não é luxurioso. Seria bom se nossa cultura “de ficadas” percebesse isso.
O poder moralmente edificante do amor é comunicado por Dante no final do Purgatório e por todo o Paraíso. Talvez possamos dizer que o amor dantesco, tal como apresentado na Vita Nuova, transfigura-se em algo mais puro e elevado na Divina Comédia, revestindo-se de uma natureza tão graciosa e moralizadora que só uma imaginação profundamente cristã poderia captar. Um amor que foi anteriormente descrito como cortês é agora, após tantos anos de desenvolvimento de Dante enquanto escritor, descrito como sacro: seu amor é tão grande que fez-se necessária toda a teologia cristã do Inferno, do Purgatório e do Céu para expressá-lo. Hans Urs Von Balthasar fez a seguinte observação:
“É verdade que a figura da amada é enriquecida com conteúdo simbólico, mas seria ridículo afirmar que ela é apenas um símbolo ou alegoria – de quê? da fé? da teologia? da visão de Deus? Apenas acadêmicos sujos poderiam cair em algo tão abstruso assim. Não, a figura da amada é uma jovem florentina de carne e osso. Porque é que um homem cristão não deveria amar uma mulher por toda a eternidade e deixar-se introduzir por essa mulher a uma compreensão plena do que significa “eternidade”? E porque deveria ser tão extraordinário – não deveríamos antes esperar – que tal amor precise, para a sua total realização, de toda a teologia e Céu, Purgatório, e Inferno?”[13]
Não impressiona que a aparição de Beatriz seja o clímax do Purgatório, visto que ela interpreta, de fato, um papel crítico na trama geral da Divina Comédia. Quando o peregrino Dante perde-se na floresta escura, é Beatriz que recorre a Virgílio e lhe pede para que conduza o poeta de volta e em segurança e, atingido por sua beleza, o antigo poeta romano faz exatamente o que lhe foi ordenado. Virgílio guia Dante até onde pode ir e, ao desvanecer-se, Beatriz torna-se sua nova guia. Ao longo da viagem há vários aspectos de seu amor por Beatriz que encorajam Dante a perseverar, por exemplo, quando o poeta como quando o poeta desce à miserável e hedionda escuridão do Inferno ele o faz devido à necessidade de uma jornada descendente para que haja uma ascendente, guiada por sua amada, até o Paraíso; a condição para que volte a vê-la nos revela que o amor está inextricavelmente ligado ao sofrimento e ao sacrifício, requerendo que nós por vezes, nos dirijamos até onde não desejamos. Logo depois, ao sofrer no Monte Purgatório, Dante o faz apenas na esperança de rever Beatriz.
Enquanto mulher amada pelo poeta na vida real, Beatriz é retratada por Dante como a representante da revelação cristã: é simultaneamente mulher e símbolo, e só pode simbolizar eficazmente por ter sido uma mulher real; é como se Beatriz, o amor de sua vida, ajudasse a revelar-lhe Deus e fornecesse, enquanto esteve viva, um vislumbre da eternidade e, por conseguinte, lhe servindo de guia através dela [a eternidade] – como visto ao longo de todo o poema. Por todo o Paraíso tudo o que Dante precisa fazer é olhar para Beatriz para que possa ascender à proximidade de Deus: observa-a enquanto esta visa céus mais elevados e, assim, através do reflexo de seus olho o poeta pode ver, como num espelho, o empíreo acima de ambos.[14]
Na medida em que reconhecemos a grandeza de Dante e de sua Divina Comédia, talvez possamos acrescentar essa história de amor como uma das razões de sua duradoura magnitude e relevância nos dias de hoje. Em seu próprio tempo Dante foi capaz de rejeitar o pior da cultura que o rodeava — a saber, os excessos do amor cortês – e, concomitantemente, de utilizar com precisão os ensinamentos referentes à natureza do amor contidos na sabedoria perene ocidental e na doutrina da Igreja e, nesse sentido, Dante preocupou-se com formas de preservação e renovação cultural. Talvez possamos também rejeitar os piores excessos de nossa cultura pós-Revolução Sexual que transformou o casamento num mero contrato e o sexo em mera atividade consensual[15] e, assim, nos seja permitido redescobrir e preservar, junto de Dante, o tipo de amor que aproxima uma pessoa de Deus — do tipo que requer toda a teologia do Inferno, do Purgatório e do Céu para que seja plenamente expresso.
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Bibliografia citada e/ou recomendada:
- Aristóteles — Ética a Nicômaco
- C.S. Lewis — Os Quatro Amores
- Dante Alighieri — A Divina Comédia
- Dante Alighieri — Convivio
- Dante Alighieri — Vida Nova
- Giovanni Reale — O Saber dos Antigos
- Juan Cruz Cruz — O Êxtase da Intimidade: Ontologia do Amor Humano em Tomás de Aquino
- E. Michael Jones — Libido Dominandi: Libertação Sexual e Controle Político
- E. Michael Jones — Modernos Degenerados
- Platão — O Banquete
- Platão — Fedro
- Roger Scruton — Beleza
- Roger Scruton — Desejo Sexual: Uma Investigação Filosófica
- William Shakespeare — Teatro Completo
Notas:
[1] Peça de Shakespeare. [N.E.]
[2] Em seu contexto original tais palavras foram utilizadas para se referir a Josef Pieper, mas também adequam-se a Dante. O contexto pode ser conferido no ensaio de Roger Kimball, “Josef Pieper: Leisure and its discontents”, The New Criterion 17, número 5 (Janeiro de 1999), 23-24. [N.A.]
[3] Dante, Convivio II, traduzido por Richard Lansing (Garland, Texas: Biblioteca Garland, 1990), capítulos 11-12.’’ [N.A.]
[4] Pode-se entender o termo sabedoria perene como referindo-se a um conjunto de noções que provaram sua realidade no decurso do tempo. Podem ser noções cosmológicas como as compartilhadas entre a mitopoética e a filosofia grega e a antiga religião hebraica [e também entre outras], a saber, de que o universo é um todo dotado de uma espécie de ordenamento; podem ser noções antropológicas de mesmo jaez, como a concepção de que o homem não é apenas seu corpo e que possui alguma ligação com seu criador. Podem ser noções epistemológicas, como a de que temos alguma forma de acesso à realidade e que fazemos parte dela. Tudo isso é sabedoria perene e não deve ser confundida com o chamado perenialismo, uma forma viciosa que arroga para si certo conhecimento iniciático de uma tradição oculta que, em verdade, talvez seja oculta o suficiente para que nem eles saibam onde ela foi parar. [N.E.]
[5] Mitchell Kalpakgian, “Chaucer & the Heresy of Courtly Love”, The Imaginative Conservative (15 de Agosto, 2018), online. [N.A.]
[6] Para ler a Vita Nuova em inglês, conferir Digital Dante | Vita Nuova em inglês via Universidade de Columbia, versão traduzida por Andrew Frisardi. O link para a versão italiana pode ser acessado aqui: Vita Nuova em italiano. [N.A.]
[7] Ibidem. [N.A.]
[8] Ver Ética a Nicômaco I, 13. Aristóteles foi o filósofo favorito de Dante. [N.A.] “Virtude humana significa não a do corpo mas a da alma. 142 E entendemos a felicidade como atividade da alma.143” 1102a1 17-18, e também: “Se nesse sentido, devemos nos referir à parte irracional da alma também como racional, neste caso a parte racional também é duplamente dividida, uma parte a razão soberana e em si mesma, e a outra parte apenas obediente a ela como se é em relação ao pai. A virtude também é diferenciada em consonância com essa mesma divisão.” 1103a1 1-5 (Ética a Nicômaco, Edipro — Edson Bini). [N.T]
[9] Robert Hollander, “Dante: A Party of One,” First Things (Abril, 1999), online. [N.A.]
[10] Ibidem. [N.A.]
[11] Dante, La Vita Nuova, versão online [N.A.]. Fiz uso da edição de Vita Nuova da Atena Editora. Devo indicar que qui est per omnia saecula benedidus significa “que é bendito pelos séculos dos séculos”. [N.T]
[12] A Divina Comédia V. 127-136, tradução de Mark Musa [N.A.] A versão em português foi retirada da tradução de Ítalo Eugênio Mauro. [N.E.]
[13] Hans Urs von Balthasar, The Glory of the Lord: A Theological Aesthetics, Volume III: Lay Styles, traduzido (no original) por, Andrew Louth, John Saward, Martin Simon, e Rowan Williams (São Francisco: Ignatius Press, 1986), 31-32. [N.A.] Tradução própria, dada a ausência da obra no mercado editorial brasileiro. [N.T]
[14] Balthasar, GL, 63-64. Por exemplo, veja Dante, Alighieri, A Divina Comédia: Paraíso, traduzido por Mark Musa (Nova Iorque: Penguin Books, 1971), I 64-71. [N.A.]
[15] Tema explorado por Giovanni Reale em O Saber dos Antigos, como consta na seguinte passagem: “Para remediar o esquecimento niilista do amor, o homem de hoje recorre ao sexo. O que mais impressiona não é a redução do amor à dimensão do eros físico, mas a perda do senso de medida. […] O consumismo atual — a transformação do sexo em mera mercadoria — foi bem além: o nada que se revela atrás do exibicionismo que é fim em si mesmo não é mais o nada metafísico que marcava a crise do Ocidente no início de nosso século, mas é o da consciência agora inerte.” O Saber dos Antigos p.163. [N.T]
Artigo gentilmente concedido por Voegelinview.com. Original aqui.
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