Por Ernst Cassirer Tradução, Notas e Comentários de Helkein Filosofia   Se a filosofia deseja ser, em termos platônicos, a “doutrina dos seres eternos”,[1] então o conceito de história da filosofia encerra um problema árduo, pois os nexos ideais teleológicos da investigação filosófica não se assemelham aos das entidades[2] surgidas num tempo determinado para, após breve duração, dissolverem-se novamente no nada. Por outro lado, contrastando com a sucessão temporal dos “sistemas” individuais, subsistem questões permanentes e interligações problemáticas variantes em forma histórica, mas inalteradamente conservadas em sua estrutura essencial. De Descartes a Platão, de Leibniz a Aristóteles, há outros nexos evidentes além daqueles emergentes das ligações históricas diretas entre a doutrina de um e outro pensador, e são precisamente estas conexões que fundamentam a continuidade da filosofia e a unidade de seu conceito.   Nisto, os grandes contrastes sistemáticos e problemáticas [filosóficas] não obsolescem, mas ressurgem sob nova roupagem nos materiais de outras especulações específicas; exige-se, pois, que a consideração da história da filosofia, para abarcar uma ampla gama de questões fundamentais, opere em dupla via, pois, para além de perfilar os sistemas doutrinários em sua progressão temporal, deve notar relações materiais abrangentes e pertencentes, por assim dizer, a outra dimensão.[3] Apenas a partir deste duplo aspecto o material da história recebe, ao mesmo tempo, plenitude e sentido, transformando a variedade de materiais numa unidade significativa ideal. Somente esta mudança de perspectiva concede a compreensão da verdadeira profundidade da história da filosofia.   O trabalho de Görland acerca de Kant e Aristóteles caracteriza-se por destacar e utilizar tal dupla metodologia numa perspectiva sistemática, de modo que o comum entre os filósofos, em termos de mediaç�